domingo, 20 de fevereiro de 2011

Meus oito anos...

Casimiro de Abreu

Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais

Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais.

Como são belos os dias
Do despontar da existência
Respira a alma inocência,
Como perfume a flor;

O mar é lago sereno,
O céu um manto azulado,
O mundo um sonho dourado,
A vida um hino de amor !

Que auroras, que sol, que vida
Que noites de melodia,
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar

O céu bordado de estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !

Oh dias de minha infância,
Oh meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã

Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delicias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha, irmã !

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Pés descalços, braços nus,
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas
Brincava beira do mar!

Rezava as Ave Marias,
Achava o céu sempre lindo
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar !

Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da, minha infância querida
Que os anos não trazem mais

Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O vestido azul

O Vestido Azul
                  Num bairro pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha
      muito bonita. Ela freqüentava a escola local. Sua mãe não tinha muito
      cuidado e a criança quase sempre se apresentava suja. Suas roupas eram
      muito velhas e maltratadas. O professor ficou penalizado com a situação da
      menina. "Como é que uma menina tão bonita, pode vir para a escola tão mal
      arrumada?".
               Separou algum dinheiro do seu salário e, embora com dificuldade,
      resolveu lhe comprar um vestido novo. Ela ficou linda no vestido azul.
               Quando a mãe viu a filha naquele lindo vestido azul, sentiu que
      era lamentável que sua filha, vestindo aquele traje novo, fosse tão suja
      para a escola. Por isso, passou a lhe dar banho todos os dias, pentear
      seus cabelos, cortar suas unhas.
               Quando acabou a semana, o pai falou: "mulher, você não acha uma
      vergonha que nossa filha, sendo tão bonita e bem arrumada, more em um
      lugar como este, caindo aos pedaços? Que tal você ajeitar a casa? Nas
      horas vagas, eu vou dar uma pintura nas paredes, consertar a cerca e
      plantar um jardim."
               Logo mais, a casa se destacava na pequena vila pela beleza das
      flores que enchiam o jardim, e o cuidado em todos os detalhes. Os vizinhos
      ficaram envergonhados por morar em barracos feios e resolveram também
      arrumar as suas casas, plantar flores, usar pintura e criatividade.
               Em pouco tempo, o bairro todo estava transformado. Um homem, que
      acompanhava os esforços e as lutas daquela gente, pensou que eles bem
      mereciam um auxílio das autoridades. Foi ao prefeito expor suas idéias e
      saiu de lá com autorização para formar uma comissão para estudar os
      melhoramentos que seriam necessários ao bairro.
               A rua de barro e lama foi substituída por asfalto e calçadas de
      pedra. Os esgotos a céu aberto foram canalizados e o bairro ganhou ares de
      cidadania.
               E tudo começou com um vestido azul.
               Não era intenção daquele professor consertar toda a rua, nem
      criar um organismo que socorresse o bairro. Ele fez o que podia, deu a sua parte. Fez o primeiro movimento que acabou fazendo que outras pessoas se motivassem a lutar por melhorias.
               Será que cada um de nós está fazendo a sua parte no lugar em que
      vive?
               Por acaso somos daqueles que somente apontamos os buracos da rua,
      as crianças à solta sem escola e a violência do trânsito?
               Lembremos que é difícil mudar o estado total das coisas. Que é
      difícil limpar toda a rua, mas é fácil varrer a nossa calçada.
               É difícil reconstruir um planeta, mas é possível dar um vestido
      azul.
               Há moedas de amor que valem mais do que os tesouros bancários,
      quando endereçadas no momento próprio e com bondade.
                                                         
Autor Desconhecido

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Por Aldo Lisboa parafraseando Manuel Bandeira....


Recordando...


Quando ontem adormeci
Na noite de 2 fevereiro
Era Festa de São Brás
Festa do Padroeiro
Muitos fogos das novenas
Muita música para animar
O povo não parava de festejar.

No meio da noite despertei
Ouvi o barulho estridente de enxadas a me chamar
Era o desfile dos mascarados
O Zambiapunga começava a se apresentar.

Saí percorrendo toda a cidade
O beco da maré era só felicidade
Lá morava um dos mestres que com carinho e habilidade
Ensinava a todos com simplicidade.

Lá vi o mestre
O grupo a comandar
A tradição aprendida pelos antigos não se cansava de ensinar.

Os caretas assustavam as crianças com seu horror
O Zambiapunga também é nosso
Sim Senhor!

Vi o Terno de Reis, a Dondoca e a Chegança
Ainda era muito pequeno, uma criança
Quando conheci o folclore de Taperoá
Não pude deixar de admirar
Os cortejos abrilhantavam os festejos do lugar
 
Quando tinha nove anos
Não pude ver o fim da festa de São Brás
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Zé Pinto
Seu Edberto
Osmar Pinheiro
Zé Madeira
Biruta
Onde estão todos eles?

__ Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

(Texto adaptado do poema “Profundamente” de Manoel Bandeira)

Poema de Manuel Bandeira ... Profundamente


Profundamente...

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes

Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001, pág. 81.